terça-feira, 26 de abril de 2011

Dalva, uma mulher sem vida

Eu não assisti a novela O Clone quando ela passou pela primeira vez, na época, dormia muito cedo por causa dos estudos. Agora, tenho assistido alguns episódios da novela, quando vi a blogagem coletiva do Blogueiras Feministas, pensei em falar sobre a Dalva (interpretada por Neuza Borges), a governanta de Leonidas Ferraz, do núcleo rico e brasileiro da novela.
Dalva criou Diogo e Lucas, na primeira fase da novela, cuidando de suas roupas, seu relacionamento com o pai, sem contar que também cuida de tudo relacionado a casa da família Ferraz. Na segunda fase da novela, ela cuida de Mel, filha de Lucas. Seus cuidados com as crianças da família nos leva a uma época bem antiga, antes da abolição da escravatura, onde as crianças tinham amas de leite e eram cuidadas por negras, que eram escravas de casa. Quando a escravidão foi abolida, muitas mulheres negras, sem oportunidade de outros empregos, continuaram a trabalhar com trabalho doméstico, cuidando de casa, crianças, lavando roupas pra fora. Isso explica porque tantas trabalhadoras domésticas são negras ou descendentes de negros.
Mas eu quero falar sobre outra coisa, sobre algo muito normal nas novelas da Globo, a sensação de que a trabalhadora doméstica só existe para servir seus patrões. As domésticas das novelas, normalmente só aparecem dentro da casa onde trabalha, cuidando da família pra quem trabalha, sem vida social, relacionamentos amorosos, quando há relacionamentos amorosos, são mostrados de forma jocosa, para ser motivo de risos.
Dalva não sai daquela casa, não tem irmãos, amigos, conhecidos ou até mesmo relacionamentos amrosos. Sua grande preocupação, já que não tem um drama pessoal, são os problemas de seus patrões: O casamento fracassado de Lucas, por exemplo. Sem vida pessoal, Dalva é esquecida, ela é apenas um acessório na casa da família Ferraz. Isso não seria um espelho da nossa sociedade? Onde nós também esquecemos das trabalhadoras domésticas, seus dramas familiares, sua vida pessoal, sua família. Acreditamos que ela não precisa de nada mais, ignorando-as como seres humanos.
Não sabemos quem são essas mulheres que  convivem com nossos familiares, como é sua vida, se estudam, se desejam algo diferente em seu futuro. E não é só isso, as vezes vemos como essas trabalhadoras são tratadas de forma rude, grosseira, sem nenhuma educação. Se vemos essas mulheres como acessórios de nossas casas, não nos sentimos culpadas em tratá-las dessa forma.
Aí, depois de darmos toda essa volta, chegamos no primeiro assunto do post, resquícios da escravidão no nosso país. Será que as domésticas ainda são vistas como as escravas da Casa Grande? Por isso não as humanizamos?

Outros posts:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esse blog possui uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License. Você pode copiar e redistribuir os textos na rede. Mas peço que o meu nome e o link do post original sejam informados claramente.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...